terça-feira, 26 de maio de 2015

Dá-me as trevas!

Dá-me as trevas...
Assim como um abraço,
Como o negro do espaço
Dá-me as trevas como quem veste uma capa
Como quem se enrola numa coberta
E se entrega ao sono de alma aberta
Para esquecer, sonhar, lembrar...

Dá-me as trevas,
E veja! Veja como sumo
Deixo apenas minha voz...
Oculto nas trevas eu e minha dor atroz
Dá-me as trevas, deixai-me a sós
Vês ao longe essa luz fugidia,
Esse tremelicar fantasmal de vulto?
É minha voz...
Estou despido nas trevas,
Cicatrizes à mostra na escuridão

Dá-me as trevas,
As trevas mais negras
De onde nada que entra sai!
Dá-me as trevas onde escondo meus tesouros,
Meus beijos, memórias, meu altar de ouro!
Dá-me as trevas onde minha voz de louco é sonata
Onde minhas palavras bêbadas e desconexas são prece altiva
Dá-me as trevas onde eu respiro, vivo, renasço,
Dá-me as trevas dos seus cabelos,
Onde escondo meu rosto, fecho os olhos e suspiro
O suspiro de quem acorda de pesadelo!

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pés debaixo das cobertas

O sono vem - não vinha.
Seu cheiro na roupa
Seu riso de louca
Das bobagens minhas...

Escuro, pés cobertos
Cobertas
Meias e luzes incertas
A porta entreaberta
Pés e pernas,
Pele que se acerta
E que dormindo, desperta...

O sono vem... Uma hora vem.
Ainda que tardio,
Feliz de quem tem
Um amor, um alguém,
Mesmo quando o sono não vem...
Pois ele vem:
O sono
(O amor também).

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Fiat lux

Arranca da terra as tábuas que me encerram
Rasga a mortalha que me sufoca,
Abre minha boca seca com seus lábios de pêssego
Sopra de novo a vida em meu peito
Insufla minha alma rota com sonhos e fé
Que eu molhe meu rosto com lágrimas quentes
E respire de novo, como quem acorda de um pesadelo!

Mesmo gosto
Mesmo riso
Mesma afinação
Mesma alma
Gêmea
Amada
Iluminada
Machucada
Apaixonada

Minha amada.